Wilber Watch

Wilber está de olho. Uma pequena janela para o que vai dentro do JS.

2006-04-14

V

Vamos inaugurar esse espaço com um algo para colocar coisas em movimento, acabar com a inércia. Apresentações e aberturas podem seguir sem urgência.

Por quê agora? Agora euvi o "V de Vingança" nos cinemas. Eis o por que. O pessoal que acompanha e curte quadrinhos que me perdoe se o filme não está bom - mas eu só li os quadrinhos uma vez, há uns 10 anos. Na época eu lia os famigerados quadrinhos de super-herói, e, não sei se por isso, ou se porquê eu tinha minha própria briga, a história não me empolgou.

Pelo menos não me empolgou tanto quanto aos colegas e parceiros, anarquistas e esquerdistas de faculdade. Os que poucos anos depois iriam me chamar de "de direita". Bom, a quem chega por aqui, um julgamento melhor da direita-esquerdização de uma mente será possível, se eu escrever tanto quanto desejo (o que pode não ser o caso).

Mas, voltando ao V da questão. O V de Vingança é um filme que mostra essencialmente a briga de um homem - o filme quer que seja uma idéia, daí a máscara - contra um sistema. Um sistema opressor e onipresente, temido e odiado por todos. Mas tão temido que ninguém ousa admitir. O herói então através de ataques sistemáticos e muito bem planejados derruba todo o sistema, ao mesmo tempo em que faz o povo perder o medo de se expressar e também levante a voz contra o sistema.

Ainda assim o filme (já não lembro se os quadrinhos) precisa de uma pessoa para ser o herói. Mesmo que o texto afirme o contrário, apresentando a máscara como um símbolo para se esquecer das pessoas e lembrar-se das idéias - o que é mostrado é um plano arquitetado e executado por um único indivíduo. As massas só aparecem para nos reconfortar com a idéia de que esse herói estava do lado "certo".

Se a história realmente quisesse demonstrar a máxima dos Saltimbancos de que todos juntos somos arco, somos flecha, ao menos o golpe de misericórdia seria dado em conjunto, pela multidão.

Mas, já disse acima, não vim aqui criticar o filme. Vim falar sobre o que ele me trouxe a mente.

Uma coisa interessante, uma mensagem clara do filme é "não seja oprimido, lute pelos seus direitos, destrua o opressor". Lá, o inimigo é similar a ditadura militar pela qual o Brasil passou inda a pouco.

Mas e ai? O ano é 2006. Cadê o bandido?

Esse é o ponto.

Cadê o bandido?

Algumas respostas, gostariamos de dar de imediato: o bandido são os políticos corruptos que desmoralizaram completamente a instituição do governo. Ou, que o bandido são os terroristas e esses são muçulmanos fudamentalistas, e mandaram avião no World Trade Center. Ou, o bandido é o bom cristão que faz guerra aos muçulmanos fundamentalistas e manda suas tropas ao oriente médio (hmmm... que ligeira sensação de déja vu).

Mas então...na minha opinião, o bandido está ai, invisível. Nenhum dos acima, ainda por trás de todos (e assim se esconde). O mais engraçado? É esse inimigo - esse bandido - que trás ele mesmo até nós o filme V de vingança. Tão bom é o seu esconderijo.

Um regime autoritário proibiria o filme. O nosso autoritarismo escondido, finge nos deixar com resgas de luz - e permite mesmo que vejamos em massa filmes como "V de Vingança". Ver, desde que dentro das suas regras. Assista, mas não repasse. Assista, mas não se vista como. Assista essa semana, e esqueça com o novo filçme da semana que vem.

É ai, mais eficiente que o Grande Irmão Orwelliano, ou muito além do que foi pensado em Brazil, nosso pensamento e discurso é controlado - é sobretudo atenuado.
Um pensamento que já não temos.

Para não ficar em meias palavras, estou chamado de bandido justamente a indústria da mídia. Incluindo a indústria cinematográfica, as gravadoras de disco, editoras de livro, a mídia impressa, jornais, revistas, e provedores de internet com seus Portais.

Dessas fontes emana uma "verdade", uma "verdade" que em resumo diz que elas são as boas fontes para as coisas que lemos, assistimos, ouvimos. A verdade de que não precisamos nos preocupar em fazer nós mesmos - em escrever, desenhar, produzir vídeo ou música, programar um computador - por que já vem pronto.

Sei que isso não é muita novidade. E que esse bandido não vem sozinho, que ele ajuda e se entrelaça ai com vários outros. No passado, a turma de esquerda tinha facilidade em identifica-los como "a burguesia". Hoje se tornam um pouco mais impessoais, como empresas transnacionais - além dos governos, que permeiam tudo.

Bom, entre essas transnacionais quero iluminar e, por que não, culpar as transnacionais de mídia. Pelo embotamento da razão.

Essa parte fica por aqui - vamos ver se escrevo alguns exemplos mais tarde. Um dos mais preocupantes é sem dúvida o que eu apelidei de "voto de Schrödinger" - em analogia ao clássico gato que não se sabe se vive ou está morto. Assim também ao votar nas nossas urnas eletrônicas, não sabemos se nosso voto é para X ou para Y - e - estranhamente ninguém parece se importar.